No começo da vida - se é que posso chamar de começo- , quando nos damos conta que estamos sozinhos no
mundo e que somos responsáveis pelos nossos próprios problemas e os únicos
capazes de encontrar soluções para eles, percebemos que a idealização que
fazemos da vida na infância e na adolescência não passa de uma grande ilusão. Não quero
dramatizar, apenas constatar. Vivemos por muito tempo à sombra de um cuidado e
de um zelo que sustenta o mundo sobre as nossas cabeças para que sintamos menos
o peso do mundo nas costas. A medida que vamos crescendo esse peso vai caindo
levemente sobre os nossos ombros, enquanto protestamos insistentemente para que
ele volte de onde veio. Crescer é um protestar infinito.
Chega uma hora que a
vida deixa de ser leve, que as coisas demoram muito mais para serem esquecidas,
e as relações são muito mais complexas. Chega um momento que as festas, os
amores, os prazeres efêmeros, tornam-se mais perca de tempo que uma forma de desafogar
a alma. Isso não quer dizer que estamos amargurando, isso nos diz apenas que
estamos amadurecendo, que "a farra acabou", e que alguém tem que
acordar pra vida. Nesses dias nós vamos nos perguntar quem nós somos, e o que
viemos fazer nesse mundo desconexo. Vamos revisar nossas metas e questionar
nossas certezas - se houver certezas a essa altura. O que ás vezes tem, e
muito!- Nós vamos parar e refletir sobre como o tempo muda e revela, como ele
nos molda, nos faz crescer - ou não.
Com o tempo as
coisas mais simples ganham mais importância, acima do fútil. E as
responsabilidades se transformam em contrapeso nas nossas pálpebras. Nos
forçando a lutar com o nosso próprio corpo, e ao mesmo tempo com o nosso intimo
para fazer as coisas voltarem aos trilhos.
Tem algo de muito
bonito em relação ao tempo e a vida, que é ver como as pessoas ao nosso redor
evoluíram - torno a dizer: ou não... - e como elas lidaram com os problemas,
com as responsabilidades, e como conseguiram transformar madeira em carvão, e alimentar a locomotiva
da vida adiante. Mesmo com todas as dificuldades que sabemos que a vida não
economiza em apresentar. E apesar de todas as expectativas não correspondidas,
sonhos adiados, como é bonito ver quem a gente quer o bem, crescer, e ser, mesmo
que a vida não tenha seguido de acordo com os planos.
Outra certeza que o tempo
nos dá: Não podemos planejar a vida completamente. Somos as lagartas que sabem
que chegará um tempo que precisaremos virar pupa e que para isso precisamos nos
manter fortes e seguir no caminho da metamorfose, até que lá na frente tenhamos
um futuro de borboleta. Vamos fazendo metas, para seguir no destino alado, mas
o que acontece entre a lagarta e a borboleta, isso, não podemos controlar. A
vida se encarrega.
E em algum lugar
dentro de nós, está aquela pequena
luzinha que brilha fraquinha, mas que ainda brilha, nos dizendo que ainda há
luz, e que por mais que todos os problemas que a vida nos mostre, todo o
desconforto que a alma sente enquanto tenta se encaixar dentro do corpo, apesar
de tudo, ainda podemos mudar e melhorar.
Mudança é sinônimo
de melhora. Começo a pensar assim. Que toda a mudança que fazemos para lidar
melhor com a vida e com o mundo, é sem dúvida um primeiro passo em direção do
"acertar". E assim como
crescer é um protestar infinito, viver é o contrário. Viver é um descruzar de
braços, e duas mãos no arado. Só começamos a viver quando desistimos de fazer
birra e assumimos que aquele destino enevoado lá na frente a que chamamos de
"futuro", depende somente de nós.
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