Em toda a minha vida
tive uma frase recorrente sempre que penso na vida, e nas relações : "
difícil essa coisa de lidar com o outro, né?!" O ser humano é a criatura mais complicada que
o mundo já viu. Tem gente que diz que não, que vive uma vida leve, e não complica coisas simples,
como relacionamento por exemplo. Que quando o amor acaba, termina e ponto e
pula para outra, porque "vida que segue". A leveza de pular de vida
em vida. Essa ideia de leveza anti-complicações esquece de levar em conta que a
vida que vale a pena é a que se passa resolvendo essas complicações. Isentar-se
delas é tentar passar de estágio vencendo o Bowser
pelo cansaço.
O que faz de nós seres tão complexos, e em
conseguinte tão complexados em simplificar a vida? Estamos o tempo todo
tentando podar o desnecessário, "o dramalhão", e sem querer podando o essencial. Existe uma
certa repugnância geral ao
sentimentalismo, a tudo que não seja "leve". Essa palavra é carregada
de muitos equívocos. Hoje em dia lemas de vida são moldados nessa ideia de que
ser leve é o contrario positivo do pesar. E se eu disser que é o
contrario? Olhar de lado para o
"sentimental" é ter uma aversão ao ser humano na sua essência mais
pura. Engana-se muito quem pensa o
contrario. Somos puro sentimentalismo e ignorar esse fato é o que nos torna
mais doentes e perdidos a cada dia. O ser humano pesa, da maneira mais bonita.
Repassando em palavras o que kundera certamente diria: a leveza é a
ausência de peso ,sendo assim, nos torna aos poucos cada vez mais
insignificantes.
Tudo a respeito de
"gente" é confuso, complexo, feio e bonito ao mesmo tempo, somos ou
não somos um belo quebra-cabeça? Existe vários tipos de pessoas no mundo,
várias "tribos", mas existe apenas dois tipos de seres humanos, os
que pesam e os que não. Sobre os que
pesam: Eles guardaram dentro de si a essência primal do homem. Cresceram com
essa ânsia insaciável dentro do peito, são os nossos "wether's" do
mundo civilizado, tentando lidar com o peso que o mundo lhes impõe. Eu gosto de
pensar que esse homem primal, esse ser humano não modificado em espírito, pela
necessidade de leveza do mundo, não se trata do Homo
sapiens sapiens, mas sim do homo
sentimentalis, de kundera. Nascemos sentimento, viramos seres humanos
com o tempo. Isso pode ser facilmente comprovado ao olhar uma criança magoada
por uma palavra, que para nós "adultos"( seres que concluíram a
evolução), parece bobagem, mas pra quem ainda permanece no estagio de
sentimento, corta o coração. Esse estar no ringue com a vida, nos torna mais
homens e menos sentimento. E há quem veja nesse "dessentimentalizar"
uma positiva leveza.
Aí vem o segundo tipo, os mais leves que o ar:
essa frase inicial, pode parecer de certo modo positiva. Acredito que muita
gente - inclusive eu- gostaria de saber como se sente alguém que não tem todo
esse ansiar pela vida dentro de si. Mas como já disse : ser humano é paradoxo.
A leveza é como uma coisa que se almeja, mas que quanto mais você tem, menos
você é. Um momento de leveza é como um renascer, como enxergar num mundo velho,
e estragado um mundo novinho e sem temores. Uma vida inteira de leveza é passar
pela vida, e não viver de fato.
Existe um poema de
Walt whitman que eu gosto muito e que retrata exatamente o que é estar entre
esses dois mundos, intitulado "carpe
diem!" uma frase do latim que significa : "Aproveite o
dia!" É incrível como uma só frase ensina tanto. No mundo atual na era das
redes sociais pode-se facilmente achar essa frase erroneamente associada a uma
leveza vã. Entretanto ela se dirige como uma flecha aos que pesam.
A primeira frase do
poema diz: " Do not let the day end without having grow a bit." (
traduzindo: "Não deixe que o dia termine sem teres crescido um
pouco." Nessa frase whitman nos
chama a atenção para um outro tipo de seres humanos, os Homo sapiens sentimentalis ( cientistas acharão isso uma
aberração, mas a licença poética me permite chama-los assim): É uma junção desses dois tipos de pessoas, é
como um peso-leve no ringue da vida. São
os que oscilam entre o peso e a leveza constantemente. Como diria Whitman são
os que aproveitam o pânico que é ter a vida inteira pela frente e vivem
intensamente, sem mediocridade.
A eterna busca
humana é por essa linha tênue, é elevar-se ao estágio de Homo sapiens
sentimentalis, e não estar na leveza medíocre e muito menos num pesar
"Wertheriano". É encontrar o segredo que nos guie até esse estágio de
evolução que é viver intensamente, sem mediocridade.
" Sentiu um peso, mas não era o peso do fardo e
sim a insustentável leveza do ser..." - Milan kundera
-Texto inspirado no
livro " A insustentável leveza do ser" - Milan Kundera
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